Resumo:
Esta tese trata de linguagem, interação e desenvolvimento profissional, assumindo a relação entre o coletivo e o individual como espaço de emergência e potencialização da reflexão sobre o agir docente e a formação de professores. Tem como objetivo principal analisar traços/pistas linguageiras de desenvolvimento profissional docente em verbalizações de uma professora de Língua Portuguesa, a partir de sua participação em uma comunidade de desenvolvimento profissional (GUIMARÃES; CARNIN, 2020). Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa-ação que acompanhou essa professora de Língua Portuguesa ao longo de um percurso formativo de quatro anos (2018-2022), cujo mote principal foi, a partir do desenvolvimento de Projetos Didáticos de Gênero (GUIMARÃES; KERSCH, 2012), contribuir para a renovação do ensino de Língua Portuguesa e a reconfiguração de práticas docentes no contexto de uma rede municipal de ensino da região metropolitana de Porto Alegre (RS). Ao longo do percurso formativo, foram propostos diferentes movimentos de interação-formação (encontros coletivos, mentoria e entrevistas individuais), os quais permitiram a alternância de papéis na formação e nos modos de participação (LAVE; WENGER, 1998; WENGER, 2001) da professora participante da pesquisa. Esses momentos fomentaram a reflexão sobre conceitos relacionados ao trabalho com gêneros de texto em sala de aula, à reconfiguração das representações sobre o trabalho docente “no chão da escola” e à legitimação do coletivo enquanto comunidade de desenvolvimento profissional docente. Os dados que compõem o corpus da pesquisa, analisados principalmente à luz do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006, 2011, 2013), enfocaram os tipos de discurso e os mecanismos de responsabilização enunciativa, a partir dos quais foi possível observar que a alternância de papéis vivenciada pela professora participante da pesquisa suscitou o debate interpretativo, a tomada de consciência e a (potencial) reconfiguração do agir docente, movimentos importantes para o desenvolvimento individual e, também, para a consolidação de uma comunidade de desenvolvimento profissional docente. Nos dados analisados, foi possível constatar que o dispositivo didático “Projeto Didático de Gênero” funcionou como um dispositivo formador, catalisando uma série de movimentos de reconfiguração do agir docente que emergiram na tensão entre as representações individuais e coletivas que foram capturadas do agir linguageiro da professora participante da pesquisa. Da mesma forma, destacamos a mentoria como espaço de interlocução e construção conjunta, que fomentou a reflexão-na-ação (SCHÖN, 1992) e incrementou o movimento de ressignificação do trabalho de uma professora que ensina língua portuguesa na Educação Básica. Além disso, concluiu-se que o coletivo é um elemento potente para o desenvolvimento profissional docente, considerando que é na interação social que nos constituímos como indivíduos e podemos, também, (re)significar a dimensão profissional de nosso agir.