Resumen:
Durante os anos 1980, o rock brasileiro — ou “BRock” – tornou-se um relevante porta-voz pelo fim da ditadura civil-militar. Para além da esfera musical, o universo cultural do BRock foi também atrelado à sua dimensão visual, uma vez que artistas dependiam de encartes, cartazes, fotos, vídeos, roupas e outras materialidades para divulgação de seu trabalho e consolidação de sua identidade. Nesse contexto, o formato videoclipe se tornava um marco da visualidade do BRock desse período. Esta pesquisa pretende, portanto, compreender as audiovisualidades do rock brasileiro dos anos 1980, manifestadas, especificamente, em videoclipes de bandas lançados em 1986, ano mais próspero do movimento BRock. Epistemologicamente, a pesquisa insere-se em uma perspectiva tecnocultural, baseada no pensamento de autores como Shaw (2008) e Fischer (2013), e adota a cartografia benjaminiana como lastro metodológico das incursões sobre os materiais observados. As análises evidenciam as características principais das audiovisualidades dos videoclipes observados, apresentadas em três constelações: urbanidade, performance e reminiscência, em que foram identificados resquícios de traços contraculturais atualizados na tecnocultura audiovisual dos anos 1980. Assim, a pesquisa conclui que uma determinada tecno(contra)cultura que tomou forma no território nacional na década de 1980 foi decisiva para que a insatisfação com os sistemas normativos político e social vigentes pudesse ser manifestada através da música, tendo sido o movimento Brock – mesmo que incorporado ao show business – um importante agente causador de rupturas e desagregações estéticas no campo midiático, as quais contribuíram para moldar a identidade de uma época.