Abstract:
A presente tese tem por objetivo investigar as performances narrativas de pessoas acometidas pela DA em situações de interação face a face, analisando o que esses empreendimentos demonstram em termos de construção identitária. Inserido no campo da Linguística Aplicada, este trabalho tem caráter qualitativo, fundamentalmente interpretativista, utilizando a abordagem de pesquisa narrativa na geração de dados em entrevistas abertas com três participantes acometidas pela DA. Alinhados a uma concepção socioconstrucionista, consideramos as narrativas conversacionais que emergem nas interações face a face como lócus da construção de quem somos e como um lugar privilegiado para que as pessoas acometidas pelas DA possam reafirmar seu self e construir suas identidades localmente. Aliando a concepção de narrativa coconstruída (OCHS; CAPPS, 2001) à noção de performance, segundo Goffman (1998) e Bauman (1986), buscamos identificar como se estruturam as narrativas orais, como as participantes manejam suas performances na interação e como constroem suas identidades por meio das narrativas. Assim, os construtos teóricos indexicalidade (SILVERSTEIN, 2003), footing (GOFFMAN, 1998) e as pistas de contextualização (GUMPERZ, 1998) explicitam a materialidade dos recursos expressivos de construção de sentidos mobilizados pelas participantes. Para tanto, nosso estudo fez a análise de cinco narrativas que emergiram nas interações gravadas com os participantes, em entrevistas abertas, ou seja, sem roteiro pré-definido, em suas residências, a fim de propiciar uma maior naturalidade à situação e maior conforto às participantes. Esta análise foi organizada a partir do modelo de lâminas de Biar, Orton e Bastos (2021), por meio das quais se podem verificar: i) a organização das narrativas atendendo às dimensões propostas por Ochs e Capps (2001); ii) o modo como as pessoas acometidas pela DA manejam suas performances na interação; iii) a maneira como as pessoas constroem suas identidades por meio da narrativa. Os resultados de nossas análises revelam que as narrativas das participantes acometidas pela DA apresentam dimensões observáveis, conforme proposto por Ochs e Capps (2001), que revelam o grau de sua participação na interação, ressaltando o papel imprescindível que a colaboração desempenha nesse contexto. Além disso, pode-se verificar que as participantes lançam mão de diferentes recursos semióticos, a fim de construir suas performances narrativas e, mais do que isso, a fim de ressignificar experiências e representar seu self para o interlocutor, apontando para construções identitárias as quais revelam seu papel social.