Abstract:
Projetar, em uma perspectiva ampla, envolve partir de uma situação dada para uma situação desejada - o que requer conhecer a situação presente para que se trace o caminho à situação futura. Saber ouvir a situação, contudo, parece ser limitado à percepção de quem estrutura os métodos de sondagem. Como seria possível mapear aquilo que escapa à percepção para uma problematização mais rica e democrática da situação? Esta tese propõe o design frictivo-cuidadoso como perspectiva para a revelação de vozes silenciadas, negligenciadas ou ausentes em situações projetuais. Essa proposição é mobilizada pelo objetivo geral de se compreender o design frictivo-cuidadoso e sua relevância na elaboração estratégica, suportado pelos objetivos específicos de entender como gerar situações projetuais a partir da perspectiva do cuidado; identificar indícios de infraestruturas nas dinâmicas frictivo-cuidadosas; elaborar diretrizes para um design frictivo-cuidadoso e, por fim, compreender as implicações político-projetuais de tal design. Para tanto, a tese recorre a um arcabouço teórico fundado em perspectivas sociotécnicas, design estratégico, questões de cuidado, estudos sobre a fricção, design especulativo e idiotia, seguido da estruturação metodológica de uma pesquisa-ação, desenvolvida em seis ciclos de experimentação envolvendo, como campo, a situação de uma sala de professores de uma universidade. Com base nos achados obtidos, discutiu-se a proposição de um design frictivo-cuidadoso que aciona fricção cuidadosa deliberada e situada; provoca atores a revelarem vozes silenciosas e se alimenta de sussurros remanescentes; cria espaços seguros de fala e processos atentos de escuta; utiliza expedientes especulativos e idióticos e percebe, pela escuta, a ecologia de atores e infraestruturas em uma situação. Em suas considerações finais, a tese provoca à reflexão sobre as implicações de um design frictivo-cuidadoso para o processo, a política e a democracia no projeto de design, questionando relações de poder, credenciamento de atores e ontologias do processo projetual. Ao designer, isso impactaria na mudança de práticas e postura política, adotando um papel relacional e inclusivo das perspectivas sufocadas.