Resumo:
A Filosofia assim como o exercício filosófico na escola constantemente são vinculados
a uma tradição que remonta à busca por conceitos que estabeleçam conhecimentos e verdades. Essa concepção está ligada sobretudo à modernidade, período em que o pensar e os saberes produzidos a partir do pensamento tendiam à racionalização e universalização. Nesse contexto, o filosofar passou a ser identificado como exercício racional, desvinculado, de certa forma, de outras possibilidades de construção da subjetivação, como o olhar e a imagem. Além disso, apesar do último século estar fortemente vinculado às imagens, como as produzidas pelo cinema, a filosofia e a própria escola ainda tenderam a pensá-las e vivenciá-las como entretenimento. Para problematizar tais questões, foi realizada uma arquegenealogia do olhar,
bem como toda uma interrogação sobre a escola contemporânea e a relação com a imagem e a construção do olhar. A partir disso, buscou-se experimentar uma possibilidade do exercício de filosofia com crianças na composição com o cinema. Diante disso, esta pesquisa objetiva pensar a implicação da formação do olhar em uma sala de aula de Filosofia, em se tratando da constituição dos modos de subjetivação. Esse objetivo geral se desdobra nos seguintes objetivos específicos: problematizar os sentidos do cuidado de si na construção da subjetivação, pensar a emergência da imagem como potência na educação contemporânea e reconhecer as contribuições dos programas e projetos de filosofia com crianças na educação para o cuidado de si. A metodologia proposta foi inspirada na genealogia da subjetivação a partir dos escritos de Nietzsche e Foucault, por meio da experimentação de oficinas que propuseram a conversação
entre filosofia e cinema com alunos e alunas do 9º ano do Ensino Fundamental em uma escola privada da região metropolitana de Porto Alegre. A partir da experimentação realizada, a pesquisa aponta para a importância da formação do olhar na constituição do pensamento e da própria subjetivação na perspectiva do cuidado de si. Além disso, a imagem na contemporaneidade pode ser pensada como importante possibilidade para a educação na compreensão e problematização nas práticas em que emergem a constituição da subjetivação. Também apontam para a significativa contribuição do filosofar com crianças na escola como provocação para o cuidado de si dentro desse contexto. Conclui-se que o exercício do olhar na filosofia com crianças na escola em conversação com outras possibilidades de leitura e escrita, como o cinema, contribuem significativamente para a abertura do exercício do pensamento crítico e da oportunidade de cada um se pensar de outros modos.