Resumen:
A presente tese objetiva investigar os sentidos formativos que estiveram presentes na
construção dos projetos de vida, nas experiências dos sujeitos e nos currículos escolares
do Ensino Médio brasileiro nas últimas cinco décadas e, dessa maneira, não entende o
projeto de vida como componente/disciplina escolar, como vem sendo tratado atualmente. Esta pesquisa, que se inscreve no campo dos Estudos Curriculares, utilizou vertentes contemporâneas da teoria crítica e apostou na potência das entrevistas narrativas à luz da teoria de Goodson, entendendo que questões biográficas podem conectar-se com agendas comuns. O corpus empírico é formado por quatorze narrativas de ex-estudantes de Ensino Médio, os quais concluíram essa trajetória formativa entre as décadas de 1970-2020. Os seguintes sentidos emergiram em torno da construção dos projetos de vida ao longo do tempo: a) a construção do projeto de vida como formação técnica voltada para o prosseguimento dos estudos e para a constituição profissional; b) a construção dos projetos de vida a partir da sua relação com as identidades, as expressões culturais e as habilidades pessoais; c) a construção do projeto como formação para a cidadania com vistas à atuação e à convivência cidadã e democrática. A tese desta pesquisa sustenta que o neoliberalismo tende a fragilizar a construção de projetos de vida consistentes e plurais, os quais alcancem as múltiplas nuances e necessidades da condição juvenil. Portanto, busca adentrar a luta política em torno desse conceito, dos seus objetivos e dos caminhos para a sua construção, entendendo-os como projeto(s) de vida em/com e para a vida em sociedade. Ao defender o conceito plural de projetos e de vidas, esta tese não compactua com o entendimento das políticas atuais sobre projeto de vida e, em contrapartida, reforça o entendimento das juventudes a partir de suas diversas formas de vida, de expressão e suscetíveis a variadas provas e contingências. Assim, aposta-se em um currículo que pense a construção desses projetos em sociedade, ressaltando a dimensão comunitária e coletiva; com a sociedade, entendendo que a escolha precisa ser educada e acompanhada e que os sujeitos não podem ser responsabilizados individualmente por seus fracassos e sucessos; para a vida em sociedade, abarcando a necessidade incontornável de voltar-se para uma vida construída pela via do comum, em que a cidadania e a convivência democrática são elementos essenciais.