Resumo:
O presente trabalho teve por objetivo compreender em que medida o projeto de vida se
constitui enquanto materialidade dos deslizamentos operados na concepção da metodologia de projetos da Escola Nova que preconizam o aprender a aprender. Para tal, buscou-se conhecer os pressupostos educacionais colocados em circulação pela concepção de projeto de vida a partir da metodologia empregada pela Escola da Escolha, que consiste em um “modelo educacional [dito] inovador” idealizado pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), cujo foco da ação educativa reside no Jovem e na construção do seu Projeto de Vida. De acordo com o ICE ([2021?]), “Projeto de Vida é a solução central [...] para atribuir sentido e significado do projeto escolar na vida do estudante e levá-lo a projetar uma visão de si próprio no futuro, apoiado por todos que conjugam esforços, talentos e competências”. Os objetivos do estudo foram: dialogar
sobre as concepções educacionais acerca dos projetos de ensino e aprendizagem (metodologia de projetos, projetos de trabalho, método de ensino de competências, aprendizagem baseada em projetos e projetos de aprendizagem); analisar os discursos sobre projeto de vida, observando em que medida se inscrevem na racionalidade neoliberal; e relacionar projeto de vida e o processo de ressignificação das concepções educacionais. O procedimento teórico-metodológico adotado consistiu na análise documental e no estudo de inspiração genealógica, por meio do qual pesquisas já realizadas por outros autores sobre projetos na área da educação e sobre projeto de
vida foram tramados no referencial teórico, no sentido atribuído por Paul Veyne. A continuidade desta trama se deu no cruzamento do referencial teórico sobre projeto de vida com a análise dos discursos expressos por doze Cadernos Escola da Escolha para Anos Iniciais do Ensino Fundamental (Coleção Completa da 2ª Edição – 2019). A partir disso, o estudo evidencia que os pressupostos educacionais mobilizados pela Escola da Escolha circulam por discussões acerca da Sociedade Pós-Industrial e do Conhecimento como Capital Humano; do Desenvolvimento de Competências e Habilidades; das Oportunidades de Aprendizagem e do Aprendizado ao Longo da Vida; do Sujeito Projetista de Si Mesmo; da Formação do Jovem Protagonista; e da Ênfase na
Educação Socioemocional. Como principais resultados, destacam-se a capilarização do
neoliberalismo no tecido social, ressignificando conceitos e autores caros à Educação; a noção de Projeto de Vida como forma de mobilização dos princípios empresariais e do empreendedorismo na área educacional, que busca sustentação na prerrogativa sobre a “capacidade de os sujeitos sonharem”; e a constante presentificação do futuro, que reinscreve a importância da Educação, fomenta a valorização da autorresponsabilidade pelo próprio destino e reposiciona continuamente os Projetos de Vida.