Abstract:
Com perspectivas tecnocultural, imagética e memorial, a tese exercita a inter-relação entre a comunicação, as artes e as tecnologias da imagem em termos de metodologias, conceitos e objetos, buscando compreender como as audiovisualidades paikianas - entendidas como uma qualidade audiovisual que é autenticada a partir da percepção das durações (éticas, estéticas e técnicas) na obra arte-midiática de Nam June Paik - se atualizam em artefatos da tecnocultura audiovisual contemporânea em ambientes on-line. Por meio de um desenho tecnometodológico artesão utilizando as combinações metodológicas intuição e arqueocartografia, que articula procedimentos da cartografia e da arqueologia da mídia, além da invenção de um percurso operacional inspirado na ideia de acesso aleatório, de Nam June Paik, são realizados dois giros arqueocartográficos. No primeiro, constata-se que o(s) mundo(s) da arte de Paik é complexo e convergente em termos de forma, tecnologia e estética utilizada e pode ser dividido em cinco grandes períodos: Incubação, Experimentação, Transformação, Expansão e Consolidação. As
principais marcas tecnoculturais encontradas em Nam June Paik são globalismo, participação, imprevisibilidade, dualidade, comunicação, coexistência, informação, aleatoriedade, experimentação, ludicidade, humor, zen, ironia, tempo, memória, provocação, vigilância, política, religiosidade, fluxo, multiplicidade, multissensorialidade, hibridismo, virtualidade, ilusão, manipulabilidade e mutabilidade. Já no segundo giro, foram desenvolvidas quatro constelações, nomeadas a partir de características partilhadas com processos e manifestações culturais da Coreia do Sul, país de nascimento do artista: Hanok discute os ambientes on-line enquanto “lugares de memória” diante da condição da (de)regenerabilidade de Paik, Bibimbap aborda a participação, a colaboração e o remix como expressões da tecnocultura audiovisual,
Newtro examina imagens que surgem como uma parte da relação entre o antigo e o novo, trazendo pistas para pensar marcas de ordem tecnostálgica, e Ppalli Ppalli evoca sentidos de aceleração e velocidade das imagens na tecnocultura, sobretudo no período de pandemia de COVID-19. O elemento em comum que atravessa todas as constelações é o tempo. Ao final, as audiovisualidades paikianas, especificamente em ambientes on-line, podem ser definidas como uma qualidade audiovisual resultante dos movimentos desencadeados pelas constelações, entendidas como imagens dialéticas, que, no conjunto, configuram uma galáxia paikiana, sempre em devir, aos modos como o artista se colocou em fluxo. Elas duram e se (de)regeneram por meio de uma mistura de diversos elementos (técnicos, estéticos, filosóficos, culturais e sociais, etc.) trazendo, principalmente, traços da nostalgia, experimentação e colaboração, nos provocando a pensar, entre outras coisas, sobre a exposição exacerbada de informações audiovisuais esquizofrênicas.