Abstract:
As mudanças climáticas têm sido apontadas como um grande desafio, uma vez que
contribuem significativamente para a redução da biodiversidade em todo o mundo.
Seus efeitos afetam todos os níveis de organização da biota, desde organismos até
biomas. A rápida migração e seleção direcional causada pelas alterações climáticas
podem diminuir a diversidade genética das populações, afetando assim o funcionamento dos ecossistemas. Além disso, as mudanças climáticas alteram a fenologia das espécies e as relações interespecíficas, modificando a estrutura das comunidades e as funções ecossistêmicas correlatas. Os padrões espaciais de migração e dispersão da biodiversidade também serão afetados, onde espécies tenderão a se movimentar para locais de maior altitude e/ou em direção à maiores latitudes. Ambientes tropicais e subtropicais, bem como regiões altamente impactadas, intensificam os efeitos mencionados, afetando prioritariamente táxons sensíveis, como os anfíbios que habitam a Mata Atlântica. O objetivo desta dissertação consistiu em avaliar o impacto das mudanças climáticas no padrão de distribuição da riqueza de espécies de duas guildas reprodutivas de anuros da Mata Atlântica. Neste sentido, o estudo buscou identificar possíveis padrões espaciais, altitudinais e latitudinais, nas guildas em resposta às alterações climáticas futuras em diferentes cenários. O nicho ecológico de 44 espécies, divididas em duas guildas reprodutivas, foi modelado utilizando cinco variáveis bioclimáticas para três períodos futuros: 2041-2060, 2061-2080 e 2081-2100. Uma abordagem de previsão de conjunto de modelos de distribuição de espécies fora utilizada para criar mapas de dinâmica temporal da riqueza de espécies. A relação entre latitude e altitude com a riqueza de espécies para cada guilda ao longo do tempo foi avaliada através de Modelos Lineares Generalizados com posterior análise de deviance. Os resultados obtidos evidenciaram um rearranjo espacial na distribuição futura das espécies, porém, cada guilda reprodutiva respondeu de maneira distinta às mudanças
climáticas. É compreensível que haja diferenças nas respostas entre as guildas
reprodutivas, uma vez que foram analisadas espécies que possuem comportamento
reprodutivo semelhante, mas características ecológicas diferentes. Isso destaca a
possibilidade de mudança no atual padrão de riqueza de espécies, impactando as
comunidades de anuros. Além disso, tais resultados indicam que além das variáveis
climáticas, outras características ambientais poderão influenciar a estruturação das
comunidades de anuros na Mata Atlântica. Este trabalho representa um importante
avanço na compreensão dos efeitos das mudanças climáticas na distribuição das
guildas reprodutivas de anuros. Contudo, estudos futuros que utilizem modelos hierárquicos com variáveis de paisagem e abordem a diversidade funcional e
filogenética, são essenciais para desvendar os processos de formação dos padrões
de riqueza de espécies, e auxiliar no planejamento sistemático da conservação dos
anuros na Mata Atlântica.