Resumen:
A presente tese aborda um estudo sobre a possibilidade de práticas de leitura e de escrita, desenvolvidas em escolas públicas, impactarem os modos de existência; possibilidades ínfimas e possíveis, que promovam pensamento e a vida. Partimos de uma apresentação do panorama sobre o cenário educacional brasileiro; evidenciando-se como a racionalidade neoliberal produz um novo sujeito na sociedade do conhecimento, abordando os desdobramentos dessas mudanças e situando o aluno desse tempo e nessa sociedade. Também, abordamos as modificações nas relações mais efêmeras do cotidiano e o quanto seus impactos transformam o saber, o poder e as relações dentro do contexto escolar, situando as implicações desse lócus para as práticas de leitura e escrita na escola. Investigamos as questões curriculares, e como alguns documentos estão alinhados, atravessados e garantem a implementação dos parâmetros dessa racionalidade neoliberal, conceito esse que percorre como fio condutor em todos os
capítulos e está atravessado nas práticas de leitura e escrita. Por um desses motivos, é que trouxemos a literatura, a leitura e a escrita como possibilidade de o aluno pensar e agir, como alternativas para que escape da servidão voluntária, como possibilidade ínfima de resistir a essas políticas neoliberais/racionalidade. Com esse pensamento, destacamos a importância do professor no papel de grande propulsor de possibilidades para o seu aluno, professor que entende a força da leitura e da escrita, dos textos, da literatura filosófica e compreende que ainda é possível pensar essas práticas como modos de subjetivação, como cuidado de si e como auxílio no processo de se tornar sujeito. É nessa linha de ação que as práticas de leitura e de escrita entram como exercício de pensamento, que operam como pontos ínfimos de luz, que
passam nas brechas, que servem como armas, defesas, portas de fugas e respiro, que possam operar na escola como um lugar reservado para o pensamento, para o diálogo, para uma outra possibilidades de existência em uma relação dinâmica que vincula a linguagem, a cultura e a vida. A partir disso, fez-se importante pensar as relações entre os modos de subjetivação, cuidado de si e a verdade, atravessadas pelas práticas de leitura e escrita. Como forma de entender esta pesquisa de modo entrelaçada a práticas da escola, criamos as Oficinas de Formação, nas quais se discutiu e se experimentou práticas de leitura e escrita com professores e gestores do Ensino Fundamental. Esses momentos iniciaram com um grupo focal e continuaram com encontros de formação no formato de oficinas de leitura e escrita. Para examinar a empiria, buscamos inspiração, em grande medida, na genealogia da subjetivação, em Foucault, como forma de pensar a leitura e a escrita na constituição de uma relação consigo mesmo. Foi possível diagramar três fortes enunciados: a experiência, a transmissão cultural e a temporalidade. As regularidades encontradas nas dimensões de análise, foram atravessadas em
cada tipologia de leitura e de escrita: Crespa; Sinalizada; do “Eu prefiro não”; do Ir Embora; Lagarteando e Comendo Bergamota e Poemóbiles, o que permitiu entender que tais funcionamentos da leitura e da escrita nos ajudam a pensar nas possibilidades que tais práticas são possíveis como cuidado de si, que implicam em modos de vida e outras possibilidades de existência, e de resistência.