Resumen:
Modelos de agricultura e silvicultura convencionais vêm impactando fortemente a biodiversidade em nível global. O Brasil é um dos principais representantes destes setores, que devem buscar modelos mais sustentáveis. Plantações florestais com espécies nativas têm se mostrado alternativas para promoção da produção socioeconômica e da conservação da biodiversidade. Entretanto essas abordagens “bottom-up” de conservação, ou seja, incorporando os interesses da população local, são pouco incentivadas no país. Araucaria angustifolia é uma conífera nativa, com potencial madeireiro já conhecido. Sua madeira foi explorada de forma intensiva até a década de 1970, o que influenciou para que fosse classificada como ameaçada de extinção. Embora seu extrativismo seja proibido, o comércio madeireiro ainda ocorre e é sustentado por meios ilegais, ou por plantios privados licenciados. Assim, devido a sua madeira de alta qualidade e sua importância para biodiversidade nativa, plantios silviculturais com essa espécie podem ser estratégia de uso para conservação. O objetivo desta dissertação foi caracterizar os plantios silviculturais de A. angustifolia no Rio Grande do Sul (RS), visando fundamentar o desenvolvimento sustentável do setor. A Secretaria do Meio Ambiente do RS permite a realização de plantios silviculturais desta espécie, mediante emissão do Certificado de Identificação de Floresta Plantada com Espécie Nativa. Assim, como base desta pesquisa, foram utilizadas as informações de todos os processos de CIFPEN abertos de janeiro de 2017 a maio de 2021. Ao total, foram estudados 640 processos. As propriedades com plantios de A. angustifolia no RS estão concentradas em dois polos no RS. Proprietários apresentaram pouco interesse em novos plantios de espécies nativas. Propriedades com plantio de A. angustifolia possuem diferença quanto a aspectos fundiários e ambientais em relação a propriedades com silvicultura de espécies nativa e sem silvicultura. De modo geral, essas características indicam que a silvicultura de A. angustifolia está associada com melhores condições de ecossistemas nativos, além de promover a conservação da própria espécie. Em relação ao incremento diamétrico médio anual, este é influenciado, principalmente, pelo fator idade, com maiores taxas ocorrendo até os 40 anos do plantio, aproximadamente. Acima desta faixa etária, os melhores resultados de incremento são encontrados em regiões com outono úmido, em solos profundos com alto teor de matéria orgânica e, ainda, com verões abaixo de 142 mm de precipitação, características concentradas em uma grande região à norte 8 do estado do RS e em manchas à oeste. Ainda, é importante considerar que outras variáveis não analisadas neste estudo podem ter influência no crescimento da espécie, tais como, fatores genéticos e manejo. Conclui-se que para expandir o CIFPEN, é essencial que este seja mais bem traduzido e divulgado à população, sobretudo em relação a aspectos legais. Ainda, esta pesquisa reflexões visando a ampliação da silvicultura de A. angustifolia no RS, a partir da análise de dados advindos de órgão ambiental público.