Resumo:
Aqui, defendo que a práxis hermenêutica é uma atividade responsável. O tema da responsabilidade está presente nas reflexões hermenêuticas de Hans-George Gadamer, mas de forma assistemática. Ele é ainda objeto de reflexão por parte de alguns intérpretes que, com exceção de Theodore George (2020), pouco o desenvolvem. Tanto a sistematização quanto o desenvolvimento mais amplo da responsabilidade ética, esta ínsita à atividade de compreender e interpretar, auxiliam na sua própria compreensão e também estabelecem as bases para a reflexão acerca de problemas práticos vigentes que exigem, sobretudo, a consideração da alteridade, seja em nível pessoal, social, político, cultural, ecológico. No âmbito do pensamento hermenêutico de Gadamer, a atividade do intérprete define-se como práxis, uma vez que seu modelo é a phronesis aristotélica da Ética Nicomaqueia. Após o estabelecimento do significado hermenêutico da phronesis, comparativamente ao significado aristotélico, caracterizo a práxis hermenêutica, a partir de seus elementos constitutivos fundamentais, como atividade mediadora do universal no particular, guiada pelo saber ético, enraizada na vida ética e no processo dialógico. Concluo apresentando cinco formas de responsabilidade que incidem, respectivamente, sobre a “escolha”, a “resposta”, a “autorresponsabilização”, a “singularidade” e o próprio “compreender”. Argumento que, apesar de suas peculiaridades, essas formas têm por base o exercício prático da hermenêutica e são permeadas por ele. Com isso, assumo que elas se fundem na generalidade da noção de práxis hermenêutica, bem como no encontro com a alteridade, que lhes confere fundamentalmente um caráter ético.