Resumo:
Esta tese é construída em diálogo com mulheres transexuais e travestis para entender a constituição de suas identidades e corporalidades, em processos comunicacionais e midiáticos, na perspectiva de construção da cidadania transcomunicativa. Para chegar a esse objetivo, são contextualizados aspectos relativos às articulações de mulheres transexuais e travestis na organização de movimentos sociais e políticos, às visibilidades midiáticas e às relações com o cenário político e econômico brasileiro; situados elementos comunicacionais que constituem as existências e cidadanias das mulheres transexuais e travestis; reconstituídas as trajetórias comunicacionais de mulheres transexuais e travestis e suas relações com as mídias para compreender como elas participam da formação de suas identidades e corporalidades; e analisadas as experiências e os sentidos colhidos nos diálogos com as mulheres transexuais e travestis para elucidar e refletir sobre dimensões vinculadas à construção da cidadania transcomunicativa. A pesquisa se orienta pela perspectiva transmetodológica, combinando teorias e métodos de diferentes áreas do conhecimento no seu tecido construtivo. Metodologicamente, se vale de pesquisa bibliográfica, pesquisa da pesquisa, pesquisa teórica, pesquisa contextual, pesquisa empírica exploratória e sistemática. A pesquisa empírica foi construída em colaboração com seis interlocutoras transexuais e travestis, de diferentes regiões do Brasil, com quem foram realizadas entrevistas semiestruturadas em profundidade em locais do Rio Grande do Sul e na Casa Florescer, um lar de acolhimento de mulheres transexuais e travestis em São Paulo. Para entender os contextos e as realidades das interlocutoras e de mulheres trans e travestis do Brasil, são problematizadas as visibilidades midiáticas de pessoas trans nas mídias, a representatividade política nos âmbitos da política institucional, o funcionamento do sistema cisgênero normativo e as violências sistêmicas de uma necrobiopolítica. As perspectivas teóricas incluem a reflexão sobre a cisgeneridade enquanto padrão normativo social, as transgeneridades, o gênero enquanto lente teórica central, as autoidentificações e autodeterminações de gênero das mulheres transexuais e travestis, as feminilidades e as mulheridades, as corporalidades e identidades trans, e a cidadania transcomunicativa. São analisadas as autoidentificações das mulheres trans e travestis interlocutoras da tese e as produções de suas corporalidades; as experiências e inspirações midiáticas das interlocutoras e as afetações nas suas corporalidades; e a construção de cidadania transcomunicativa a partir de seis dimensões: filosófica/epistemológica; política; popular/das ruas; resistência; esperança; e afeto.