Resumo:
A tese investiga como o jornalismo da Globo, em ano eleitoral, apresenta o conceito de cidadania ao estimular os cidadãos/eleitores a responderem, por meio da produção de um vídeo de 15 segundos, a pergunta: Que Brasil você quer para o futuro? Para tanto, no ano de 2018, cria o quadro televisivo O Brasil que eu quero, e oferece ao sujeito comunicante a inserção e exibição de sua demanda em seus telejornais, outorgando-lhe o título de “porta-voz” da cidade em que vive. Por meio do quadro, o cidadão possuía visibilidade para expressar sua reivindicação, denúncia e cobrança, via televisão, em um simulacro que permitia a “sensação” de recado direto aos políticos e governantes e “exercício de cidadania”. Em tom pedagógico, os jornalistas descreviam as características sobre como os agentes sociais deveriam elaborar o produto. E se o espaço de exibição do material audiovisual fosse o Jornal Nacional a confiança e representatividade era ainda maior, conforme pesquisa exploratória com amostra realizada no contexto do estado de Mato Grosso do Sul, nos municípios de Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Corumbá. De maneira que, ao “dar voz” ao cidadão, a Globo se colocava como um espaço público midiático no qual ele, valendo-se do discurso de detentor de direitos e deveres, legitima a sua necessidade de ser ouvido e ter resposta contribuindo na (de)formação da noção de cidadania pelo sistema midiático. Por meio da perspectiva transmetodológica (MALDONADO, 2008), o processo investigativo girou em torno da problemática: Que Brasil a Globo quer mostrar? Que futuro é este representado pelo Brasil que eu quero? O que o discurso diz para que o sujeito comunicante recebesse o título de porta-voz pelo sistema midiático Globo? Essas inquietações culminaram no problema sobre o papel da Globo na construção/formação cultural do conceito de cidadania pelo quadro O Brasil que eu quero. Assim, o conglomerado midiático Globo, mediante complexas relações de poder, movimenta a interface entre cultura, política e comunicação, se apresenta como um dos caminhos habilitados à formação de agentes sociais emancipados, que exercem sua cidadania plena, reduzindo-a a direitos e deveres, nos dizeres do quadro: o cidadão é o porta-voz de um município. Entretanto, da mesma forma que possibilita tal abertura à sociedade, a Globo, tal como O Príncipe Eletrônico (IANNI, 1999), com sua nebulosidade, mantém sua própria gramática, formas de circulação e seleção sobre quais demandas e materiais podem ser exibidos, bem como sua própria definição de cidadania, não tornando transparentes os critérios que definem as razões para um vídeo ser aceito ou não, utilizando estratégias que cooperam para manter sua hegemonia como um conjunto de empresas privadas, do sistema capitalista neoliberal.