Resumo:
Esta dissertação buscou compreender como as pesquisas brasileiras em Educação têm operado com o conceito de transmissão, desde uma leitura a partir do encontro entre Educação, Filosofia e Psicanálise. Compreende-se o presente a partir de um contexto de esmaecimento da figura do professor, do ensino e de um apagamento da transmissão, a partir do declínio da memória, da tradição e da narrativa. A partir disso, buscou-se entender quais foram as condições que deram possibilidade de existência à naturalização deste conceito como negativo, no campo da educação, bem como quais outras possibilidades de tomar este conceito a partir de sua potência. Para responder a isso, foram analisadas 6 teses e 4 dissertações publicadas no campo da Educação entre 2010 e 2017, a partir de uma inspiração na análise do discurso foucaultiana, em que se buscou mapear as regularidades e os deslocamentos enunciativos que mostram as condições de possibilidade para os discursos sobre transmissão na pesquisa em educação brasileira. Assim, a análise do discurso da empiria apontou para algumas regularidades importantes, quais sejam: a transmissão em negatividade; a transmissão na relação entre professor e aluno; a transmissão da tradição, da história e da cultura e a impossibilidade da transmissão. Concluiu-se, portanto, que quando naturalizado, o conceito de transmissão aparece sempre tomado desde uma perspectiva empirista, sendo capturado fortemente por um discurso neoliberal que esmaece o professor, o ensino, o conhecimento e a escola. Todavia, e não de forma binária, quando tomado em sua potência, as pesquisas brasileiras trazem distintas possibilidades de se operar com o conceito de transmissão: problematizar o lugar do processo de ensino e aprendizagem, os discursos de renovação da escola e da educação e o reconhecimento da impossibilidade e do fracasso da transmissão como possibilidade de criação.