Abstract:
A proposta desta tese é analisar como a atuação religiosa e política de frei Aristides Maria de Melegnano OFMCap (frei Aristides Arioli de Melegnano) contribuiu para o desenvolvimento econômico e social do município de Montes Altos, no período compreendido de 1962 a 1995. Assim, consideramos ser uma história do tempo presente, pois traz para discussão nuances de acontecimentos não tão distantes. Ainda, para obtermos momentos ou informações adicionais dispersas ou esquecidas, recorremos a pessoas que, em determinados momentos de suas vidas, desfrutaram da convivência com frei Aristides, que foi ordenado padre em 1950, em Milão, Itália. Em 1951, foi enviado para o Brasil. Onze anos depois chegou à Paróquia de Santa Ana de Montes Altos (1962), onde fixou moradia até sua morte em 1995. Primeiro como vigário cooperador responsável pela catequese para indígenas. Depois, vigário paroquial até 1993. O padre tornou-se mediador de conflitos entre autoridades civis constituídas, posseiros de terras e lideranças indígenas krikati. Uniu e reinstalou o povo Krikati na Aldeia São José, onde instalou a primeira capela-escola-catequética, a primeira escola primária para crianças indígenas, embrião que os despertou para lutar por direitos à educação pública específica e diferenciada, à saúde e a demarcação do Território Indígena Krikati. Lutas incorporadas pelo frei, que combateu na prática a esteriotipização do indígena, orientando funcionários e voluntários da paróquia para que acolhessem com dignidade os indígenas. Frei Aristides respeitou as tradições culturais e autonomia do povo Krikati em suas decisões. Frei Aristides fez oposição a elite com práticas políticas oligárquicas detentora do poder. Consequentemente, em 1988, houve mudança do comando político oligárquico municipal. No sertão de Montes Altos, as desobrigas foram a estratégia. Ainda, uma oportunidade de solucionar, por intermédio da passagem do frei, problemas como ausência de educação, saúde, infraestrutura, estradas, comunicação e outros. Filho de família estruturada economicamente, ele foi muito auxiliado, não apenas com recursos financeiros para custeá-lo, mas, também, com a formação de uma rede de relações com personalidades do mundo da cultura, da religião e das finanças. Frei Aristides produziu um amplo legado de memórias nos novenários, rezas de terços, devoção ao santo patrono, frequência aos sacramentos e obediência aos mandamentos da Igreja. Frei Aristides edificou o prédio da Igreja Matriz; da casa paroquial e convento, do clube paroquial, do hospital e da Torre de Montes Altos. Em suas ações ofereceu trabalho remunerado e ocupação voluntária. Criou os Institutos Seculares de Missionárias Voluntárias, acontecimento que floresceu no desabrochar de leitoras e leitores, cantoras e cantores. Frei Aristides implantou escolas catequéticas, creche, escola primária e escola de segundo grau; instituiu associações como Legião de Maria, Sagrado Coração de Jesus e outras. Frei Aristides assegurou assistência médica e social, escolar e lazer aos montesaltense, independentemente do nível social. A população assistida por frei Aristides mantinha atitude de respeito ao missionário. Frei Aristides assistiu o crescimento das povoações de Sumaúma e de Lajeado II, desmembradas para constituírem os municípios de Ribamar Fiquene e Lajeado Novo, respectivamente. Frei Aristides agiu como um homem comum, inserindo-se nas realidades de suas comunidades assistidas, impulsionando uma ação transformadora no dia a dia daquelas pessoas carentes e necessitadas de tudo. Por outro lado, também ele foi forçado a se reinventar, a adaptar-se e aprender com as populações em cada local as regras de vida para sobreviver naqueles ambientes. Frei Aristides, por meio de sua atuação religiosa e política, contribuiu significativamente com os munícipes por meio de ações sociais e obras de edificações na efetivação dos direitos à saúde, à educação e ao lazer. E, especificamente, relativo ao povo Krikati, com o acesso à saúde, à educação escolar e a terra, sendo, esta, preponderante para o desenvolvimento da diversidade étnica e cultural.