Abstract:
A tese tem como objetivo entender como são constituídos ciberacontecimentos pop mobilizados pela guerra semiótica envolvendo gênero e sexualidade na cultura nerd. No percurso do estudo, são propostos, também, diálogos entre a semiótica, mais especificamente a semiótica da cultura, a cultura pop e os estudos de gênero e sexualidade. Esse empenho tem como intenção demonstrar a contribuição da semiótica para o estudo desses fenômenos. Para fins de uma análise sistematizada e aprofundada, foi selecionado um caso específico dos ciberacontecimentos mapeados na tese: a tentativa de censura da HQ Vingadores: A Cruzada das Crianças na Bienal do Rio de Janeiro em 2019. O primeiro capítulo contextualiza o problema e os objetivos, desdobrando as lentes epistemológicas da semiótica que são base da pesquisa. O segundo capítulo apresenta o conceito de ciberacontecimento, relacionando-o com plataformas digitais na perspectiva das territorialidades semióticas, e constrói uma semiótica da cultura pop, na qual são delimitados alguns caminhos a partir da semiosfera para compreender a cultura nerd e a superaventura. Nele também são desenvolvidas categorias de ciberacontecimentos pop: performances célebres, mobilizações de fãs, mobilizações de antifãs e haters, fiscalização dos públicos, ações das indústrias culturais, memetizações, metaciberacontecimentos pop. O terceiro capítulo arquiteta uma semiosfera do gênero e sexualidade, na qual a posição de um signo ajuda a entender o seu grau qualitativo de semiodiversidade, e demonstra como as relações em torno dela estão presentes em ciberacontecimentos, na cultura nerd e na superaventura. O quarto capítulo é dedicado aos casos que foram mapeados e contribuíram metodologicamente para a caracterização dos fenômenos examinados. A maior parte deles são caracterizados como ciberacontecimentos que envolvem a fiscalização dos públicos, a superaventura – super-heroínas e super-heróis –, estão relacionados às pessoas LGBTQIA+, são fechados em relação à diversidade, utilizam comentários odiosos e múltiplas estratégias das mobilizações conservadores e de extremadireita, e são mobilizados por representações LGBTQIA+. O quinto capítulo analisa as semioses que originaram o ciberacontecimento selecionado. Para isso, são construídos e examinados os sentidos sobre gênero e sexualidade presentes no plot do objeto midiático colocado em discussão, a força inaugural do ciberacontecimento, a cobertura jornalística em torno dele e as constelações de sentidos que ele gerou no Twitter. Assim, o capítulo 6 articula todas as pistas e inferências do que chamei cartografia semiótica e transviada, classificando fenômenos que são próprios do contexto estudado, como a ideia de que as crianças estão ameaçadas, o engendramento entre nerds e a extrema-direita e a relação dos super-heróis com masculinidades. São propostos, também, caminhos entusiastas da diversidade para ultrapassar a guerra estudada, como o uso pedagógico do pop em relação à gênero e sexualidade. Por fim, a cultura nerd é destacada como um território em constante disputa de sentidos, assim como a infância.