Resumo:
Esta dissertação é composta por dois artigos empíricos derivados do projeto de pesquisa que avalia a comunicação médico-paciente através de pistas e preocupações emocionais de pacientes e as respostas dos médicos sobre essas expressões emocionais em consultas oncológicas. No primeiro artigo, utilizou-se a definição de codificação de sequências emocionais de Verona (VR-CoDES) para descrever as pistas e preocupações emocionais dos pacientes em tratamento para o câncer e as intervenções dos médicos em resposta à essas expressões emocionais, em consultas médicas gravadas em vídeo. No segundo artigo, examinou-se a associação entre pistas e preocupações emocionais, respostas dos médicos, variáveis sociodemográficas e clínicas, satisfação e comunicação médico-paciente. Delineamento do artigo I foi misto, descritivo e exploratório. O artigo II teve delineamento correlacional. Participaram da pesquisa 12 pacientes com idade média de 63,25 anos (DP=15,70 anos), oito mulheres e quatro homens, que estavam em tratamento para o câncer em média 28,42 meses (DP= 38,59 meses) e oito médicos oncologistas que atendiam os respectivos pacientes. Os instrumentos utilizados foram: questionários de dados sociodemográficos (clínicos e laborais); VR-CoDES (Codificação de Sequências Emocionais); Inquérito de Satisfação (traduzido e adaptado do PSIAQ); e Instrumento de Avaliação da Comunicação (CAT). No artigo 1, os resultados revelaram que os pacientes expressaram 349 pistas/preocupações em 12 consultas. Em resposta às pistas/preocupações foram identificadas 394 intervenções de respostas dos médicos, sendo que as mais utilizadas foram respostas explícitas (F=135; 34,3%) e não-explícitas (F=111; 28,2%) ambas com a função de redução de espaço. A pista mais utilizada pelos pacientes referiu-se a preocupações de caráter fisiológico relacionadas à doença e ao tratamento. Os resultados do artigo II indicaram que respostas explícitas e com redução de espaço foram relacionadas positivamente com expressões de vivências potencialmente estressantes para os pacientes, e repetição de conteúdo por iniciativa própria do paciente. A pista expressa através de sintomas fisiológicos se relacionou com respostas do médico com provisão de espaço apenas ao conteúdo. Os pacientes expressavam menos comportamentos não-verbais (ex. choro, silêncio ou pausa na fala) na medida em que estavam há mais tempo de tratamento e respostas mais empáticas eram fornecidas a esses pacientes. Não houve relação de pistas/preocupações dos pacientes e respostas dos médicos com a satisfação e avaliação da comunicação. Sugere-se que os médicos recebam capacitação de habilidades de comunicação a fim de favorecer o reconhecimento das emoções dos pacientes e prover suporte emocional no contexto da oncologia.