Resumo:
A distribuição das espécies entre locais pode ser influenciada por processos relacionados às interações bióticas e abióticas (seleção de espécies) como pelos processos independentes do ambiente (processos espaciais). O zooplâncton é reconhecido por ser influenciado pelos processos de seleção de espécies, embora a importância de cada processo dependa da distância geográfica, da configuração da paisagem, da capacidade de dispersão e fase do ciclo de vida. Em áreas úmidas intermitentes, o zooplâncton responde rapidamente às alterações do ambiente e pode ser encontrado tanto na coluna d' água (fase ativa) como no sedimento (fase dormente). No entanto, a distribuição espacial e os efeitos dos gradientes ambientais sobre a estrutura do zooplâncton ativo e dormente ainda permanecem desconhecidos. Neste sentido, o objetivo geral da tese foi avaliar a distribuição do zooplâncton em diferentes escalas espaciais e verificar a influência da distância geográfica e dos preditores ambientais (locais e regionais) associados a variação da diversidade beta, assim como, testar a concordância na estrutura das fases ativa e dormente do zooplâncton em uma região de transição dos biomas Mata Atlântica e Pampa no Sul do Brasil. O estudo foi realizado em doze lagoas intermitentes em uma faixa latitudinal de 520 km. Um total de 124 táxons zooplanctônicos foram encontrados neste estudo. Os principais resultados foram de que a fase dormente foi estruturada unicamente pelos fatores ambientais locais (variáveis físicas e químicas e estruturais do habitat) e a fase ativa foi estruturada pelos fatores locais (estruturais do habitat) e regionais (clima). Não foram encontrados padrões concordantes na riqueza e composição entre as fases de vida e a avaliação da fase ativa resultou em maior riqueza de espécies. A diversidade beta da fase dormente mostrou maior variação na escala espacial de área úmida, principalmente no bioma Mata Atlântica. Em relação aos grupos, Rotifera foi estruturado pelos fatores ambientais locais e Cladocera e Copepoda por ambos (locais e regionais). Foi encontrada concordância significativa entre a riqueza de Cladocera e Rotifera (fase dormente) e entre Cladocera e Copepoda (fase ativa), além de padrões concordantes significativos na composição de Cladocera e Copepoda e Rotifera e Copepoda. Os resultados combinados de ambas as fases indicaram que a seleção de espécies explicou a estrutura de metacomunidades de zooplâncton, porém, cada fase foi distintamente afetada pelos preditores ambientais locais e regionais. A ausência de concordância na riqueza e composição entre as fases indicou que a fase dormente não é substituta adequada da fase ativa, pelo menos em condições de incubação semelhantes. No entanto, encontraram-se evidências iniciais de que Cladocera e Copepoda podem ser empregados como substitutos de outros grupos em áreas úmidas intermitentes se as conclusões forem limitadas a mesma fase. Além disso, como Cladocera e Copepoda responderam ao clima, espera-se que ambos sejam mais afetados pelas mudanças climáticas previstas para as próximas décadas. Estes resultados podem ser úteis para o planejamento de estratégias de restauração e conservação de áreas úmidas intermitentes em regiões de transição entre os biomas Mata Atlântica e Pampa, uma vez que, demonstraram que diferentes variáveis ambientais e escalas espaciais influenciaram na estruturação do zooplâncton na região estudada.