Resumen:
A tese busca compreender os processos comunicacionais, usos e apropriações dos territórios digitais pelos coletivos feministas Odara –Instituto da Mulher Negra, Coletivo Feminino Plural e Movimento de Mulheres Olga Benário, Das cidades de Porto Alegre e Salvador, na perspectiva da construção de cidadania comunicativa vinculada à luta feminista. A pesquisa adota como perspectiva epistêmica a transmetodologia, que permitiu o desenvolvimento das dimensões metodológicas, teóricas e empíricas em articulação e confluência mútua e possibilitou o diálogo interdisciplinar na formação das argumentações teóricas, a partir das áreas da comunicação, sociologia, filosofia e estudos de gênero. Orientadas por essa perspectiva epistemológica, a tese se construiu a partir de movimentos de pesquisa da pesquisa, pesquisa de contexto, pesquisa metodológica, pesquisa exploratória e pesquisa empírica. Esses movimentos articulados tensionaram e moldaram a produção de problematizações teóricas acerca das potencialidades e riscos da comunicação nos espaços digitais, das redes sociais multidimensionais, dos movimentos feministas, das relações de gênero e cidadania comunicativa. Na fase exploratória, foi realizado um mapeamento de movimentos feministas de Porto Alegre e Salvador, observação das ocupações digitais de movimentos feministas nas duas cidades, observação e participação em ações coletivas e entrevistas com seis sujeitas comunicantes, representantes de seis movimentos feministas. Esses movimentos se mostraram fundamentais no tensionamento das argumentações teóricas e no delineamento dos movimentos metodológicos da fase sistemática, que se deu em um contexto peculiar de pandemia mundial. Este contexto causou descentralizações e desestabilizações sociais que atravessaram a construção metodológica da pesquisa e a observação dos dados obtidos na fase sistemática. Nesta fase foi realizada, a partir de perspectivas da etnografia na internet, a observação dos usos e ocupações dos movimentos feministas dos ambientes digitais e entrevistas semiestruturadas com quatro colaboradoras de pesquisa, representantes dos movimentos observados, todas mediadas por plataformas digitais. O conjunto de processos de pesquisa apontou que os movimentos observados possuem práticas comunicacionais multimodais e multidimensionais que integram e são atravessas por ambientes digitais e presenciais. A comunicação é uma dimensão constante, ativa e por vezes, estrutural das ações políticas e das práticas de luta contra o sexismo e a precarização das mulheres e por vidas melhores. Foi observado que estes movimentos constroem ações de generosidade e cuidado aos sujeitos, atentando para a comunicação enquanto direito na formação de sujeitas comunicantes. Assim, foi percebido que os movimentos possuem a capacidade de construir tecnologias sociais de cuidado com a voz das sujeitas, sendo a voz aqui trabalhada como a capacidade de formar a própria expressão livre e libertadora das opressões sociais hegemônicas. Nos ambientes digitais, essas dimensões se traduzem nos usos e apropriações das plataformas como territórios propícios ao compartilhamento de informações referentes às demandas e objetivos de luta e ações dos movimentos; territórios de disputa de narrativas e produção de imaginários resistentes às imagens controladoras presentes na sociedade; e espaços de empoderamento social, cultural e político e epistêmico. Em síntese, os dados apontam que os movimentos feministas observados, ao construir tecnologias sociais de cuidado, partindo do gênero como elemento estrutural, produzem uma comunicação sensível centrada no diálogo, e no reconhecimento da autonomia e senso crítico dos sujeitos. A cidadania comunicativa materializa-se no entendimento do direito às condições para o desenvolvimento da própria voz enquanto direito comunicativo.