Resumen:
Na última década, têm crescido o número de estudos que investigam o comportamento sedentário – CS (atividades em posição sentada ou reclinada que o indivíduo realiza no tempo em que está acordado, envolvendo um gasto energético reduzido), bem como suas consequências à saúde dos indivíduos. Resultados de estudos prospectivos têm demonstrado que quanto maior o tempo despendido em CS, maior o risco de desenvolver diabetes, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, e de morrer. O presente estudo teve como objetivo geral avaliar a associação de variáveis ambientais e variáveis individuais com o comportamento sedentário (CS) em mulheres adultas, residentes no município de São Leopoldo, RS. Para responder ao objetivo geral foram elaborados dois sub-estudos, ambos com delineamento transversal. O primeiro estudo teve como objetivo descrever o comportamento sedentário (CS) nos domínios lazer (CSL), ocupação (CSO) e deslocamento (CSD) e verificar a os fatores associados ao excesso de comportamento sedentário (ECS) nos diferentes domínios (ECSL, ECSO e ECSD). Investigou-se uma amostra representativa de 1.126 mulheres, com idades entre 20-69 anos, da área urbana de São Leopoldo. O CS, bem como as variáveis demográficas, socioeconômicas, comportamentais e relacionada à saúde foram avaliados através de questionário, aplicado em forma de entrevista. Considerou-se ECS valores acima da mediana. As associações foram testadas por meio de regressão de Poisson com variância robusta. As medianas e intervalos interquartílicos, em min/dia, para CSL, CSO e CSD foram, respectivamente, 163,9 (86,6-2710,5); 54,1 (0-257,1) e 17,1 (5,7-37,3). A probabilidade de ECSL aumentou com a escolaridade, foi maior entre as mulheres que não trabalhavam, sem crianças em casa e fumantes. Para ECSO e ECSD, a probabilidade aumentou inversamente com a idade, foi maior entre mulheres brancas e aumentou com a classe econômica, escolaridade e renda. A probabilidade de ECSD também aumentou com o número de carros no domicílio e foi 30% menor entre mulheres que não trabalhavam. O maior tempo de CS observado foi no domínio do lazer. As associações diferiram segundo cada domínio. Estes resultados mostram ser necessário intervenções distintas para cada domínio. No segundo estudo (Artigo 2), objetivou-se verificar a associação entre variáveis do ambiente das vizinhanças e o excesso de comportamento sedentário no deslocamento (ECSD) e no lazer (ECSL) entre as participantes do estudo. Foram considerados os dados de 1.079 mulheres residentes em 44 vizinhanças. Cada vizinhança foi definida a partir do ponto mediano das residências das participantes e, ao redor deste ponto, criou-se um buffer de 400 m. A avaliação das vizinhanças foi realizada por auditagem e através de dados governamentais. Os dados do CS e as demais variáveis foram provenientes do primeiro estudo. Utilizou-se análise de regressão logística multinível. Na análise ajustada, mulheres que residiam em vizinhanças com maior percentual de inclinação do terreno e menor quantidade de áreas de espaços públicos de lazer por morador aumentaram significativamente (p ≤ 0,05) em 50% e 40% a chance de apresentar ECSD e ECSL, respectivamente. Os resultados dos dois estudos demonstraram que: a) intervenções devem ser elaboradas considerando a especificidade de cada domínio do CS; b) alguns aspectos do ambiente da vizinhança podem interferir em CS específicos, indicando que melhorias na vizinhança poderiam diminuir o CS das mulheres.