Resumen:
O avanço das pesquisas sobre sexo e sexualidade entre adolescentes tem evidenciado a vulnerabilidade desse público para comportamentos de risco em saúde. Sabe-se que a vivência da sexualidade está interligada a um conjunto de fatores individuais e contextuais, mas maior ênfase ainda é dada para questões relativas ao próprio adolescente. Assim, constata-se a importância de compreender os fatores de risco e proteção relacionados à iniciação sexual na adolescência, integrando os principais sistemas em que o jovem está inserido, como a família e a escola. Com esse foco de investigação foram desenvolvidos dois estudos, apoiados em dados de 253 adolescentes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental de duas escolas de São Leopoldo e quatro de Porto Alegre, os quais responderam a um Questionário de Dados Sociodemográficos e Comportamentos Sexuais, ao Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) e também participaram de grupos focais (n = 24). O primeiro estudo, intitulado “Fatores individuais e contextuais associados à iniciação sexual entre adolescentes”, com delineamento observacional analítico, buscou investigar a associação entre iniciação sexual na adolescência e fatores individuais (sexo, idade, escolaridade, histórico de reprovação escolar, religião e uso de drogas lícitas e ilícitas) e contextuais (configuração familiar, suporte familiar, nível socioeconômico da família, escolaridade dos pais e acesso a informação sobre sexo e sexualidade). Adicionalmente, entre os adolescentes que já haviam tido relações sexuais, buscou-se examinar a associação entre os fatores individuais e contextuais com o início sexual precoce (anterior aos 15 anos) e o uso inconsistente de preservativos. Análises estatísticas descritivas e inferencias indicaram que as primeiras experiências sexuais dos jovens tem ocorrido conjuntamente com outros comportamentos prejudiciais para seu desenvolvimento, principalmente referente ao uso de álcool e baixo desempenho escolar. Esses fatores parecem estar também relacionados aos níveis de autonomia e afetividade que os adolescentes percebem de suas famílias, já que níveis mais altos de percepção afetivo-consistente se mostraram como fator protetor e a maior autonomia como fator de risco sexual. Já o segundo estudo, com delineamento explanatório sequencial, denominado “Acesso e qualidade da informação recebida sobre sexo e sexualidade na perspectiva adolescente”, objetivou aprofundar a compreensão sobre acesso e a qualidade da informação sobre sexo e sexualidade nos contextos familiar e escolar na perspectiva de adolescentes. Os dados foram analisados estatisticamente e por análise temática, destacando-se dois temas: fontes e limites de acesso às informações sobre sexo e sexualidade e vieses da comunicação. Os resultados indicaram que os adolescentes têm se exposto a riscos sexuais, especialmente devido ao uso inconsistente de preservativo, mesmo que relatem acesso às informações preventivas. O ambiente familiar foi identificado como o principal contexto de referência para educação sexual, no entanto, os adolescentes indicaram que gostariam que se ampliassem as atividades educativas referentes a esse tema na escola. Ainda, se destacaram relatos de atitudes sexistas e homofóbicas nos contextos investigados. Em conjunto, os dados denunciam a necessidade de uma atenção maior para a educação sexual dos adolescentes, não somente no âmbito preventivo, mas também através de diálogos que incluam a diversidade de temáticas e experiências na esfera sexual, além da relevância da inclusão dos contextos sociais nas análises sobre os comportamentos de risco sexual na adolescência.