Resumen:
As doenças cardiovasculares (DCV) então entre as principais causas de morte no Brasil. São responsáveis por cerca de 20% de todas as mortes em indivíduos acima de 30 anos. A adesão ao tratamento farmacológico determina o sucesso ou não de um tratamento onde o paciente necessita do controle do seu estado de saúde. Os principais fatores que podem vir a interferir na adesão, descritos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), são: condições socioeconômicas, características pessoais, aspectos relacionados ao tratamento e/ou a doença, equipe profissional envolvida e sistema de saúde ao qual pertence. Estudos demonstram percentuais médios de adesão ao tratamento farmacológico de cerca de 50 a 79%. Esta tese teve como objetivo avaliar fatores associados a não adesão ao tratamento farmacológico em adultos com DCV. Dois artigos com objetivos distintos emergiram desta tese. O primeiro visa a resumir a evidência sobre a relação entre as características da farmacoterapia e a não adesão à medicação na população DCV através de uma revisão sistemática com meta-análise. Dezessete características da farmacoterapia foram examinadas e associaram-se dois fatores modificáveis: o acesso ao seguro ou outro programa que auxilia com os custos de medicamentos reduziu o risco de não adesão em pacientes com DCV em 36% e pacientes com DCV que tomaram sua medicação duas vezes ou mais diariamente foram associados com aumento de 38% em risco de não adesão. Outro artigo teve como objetivo avaliar a associação entre complexidade do regime terapêutico e baixa adesão ao tratamento farmacológico em adultos que hospitalizaram por Condições Cardiovasculares Sensíveis à Atenção Primária (CCSAP) onde observou-se associação inversa entre complexidade do regime terapêutico e adesão ao tratamento farmacológico, com probabilidade 22% maior de baixa adesão em indivíduos que utilizavam esquemas terapêuticos com alta complexidade, mesmo após ajuste para potenciais fatores de confusão (RP=1,22; IC95%:1,01-1,47). No modelo ajustado para autonomia na administração e na organização dos medicamentos, esse efeito perde significância estatística (RP=1,16; IC95%: 0,96-1,40). Assim, a adoção de estratégias que promovam a autonomia do usuário na administração e organização do esquema terapêutico, são medidas fundamentais para aumentar a adesão dos indivíduos aos regimes terapêuticos complexos. Portanto, compreender os mecanismos subjacentes aos comportamentos da adesão pode melhorar as abordagens específicas do paciente para melhorar a adesão e este estudo contribui de forma importante para esta área, apontado para fatores modificáveis que podem melhorar a adesão ao tratamento farmacológico de adultos com DCV.