Resumen:
A promoção do uso racional de medicamentos depende, além da sua disponibilidade, da adesão do indivíduo ao tratamento. Estudos demonstram que a prevalência de adesão a medicamentos essenciais varia de 15-70%, mas a adesão aos medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) ainda é desconhecida. Objetivou-se avaliar a prevalência de adesão a medicamentos do CEAF e fatores associados, entre esses o acesso regular ao tratamento. Trata-se de estudo transversal com adultos de 20 anos ou mais, usuários de medicamentos do CEAF em São Leopoldo, RS. Realizou-se amostragem consecutiva dos usuários que acessaram o atendimento do CEAF entre dezembro-2014 a março-2015. Mediante questionário padronizado caracterizou-se a amostra segundo variáveis sociodemográficas, comportamentais, nutricionais, de saúde e do uso de medicamentos. A adesão aos medicamentos na última semana foi mensurada pelo Brief Medication Questionnaire (BMQ) nos domínios regime, crença e recordação. Classificou-se como aderentes usuários que não apresentaram barreiras para a adesão nos três domínios. O acesso regular ao tratamento foi definido como a obtenção (gratuita ou paga) de todos os medicamentos nos últimos três meses. Utilizou-se regressão de Poisson com variância robusta. Entrevistou-se 414 usuários, a maioria mulheres (60,9%), que utilizava um único medicamento do CEAF (68,1%), média de idade de 55 anos (DP=13) e 7,3 anos de estudo (DP=4,1). A prevalência de adesão foi de 28,3% e de acesso regular gratuito, 46,1%. Após ajuste para número de medicamentos do CEAF e número de medicamentos de uso contínuo, usuários que tiveram acesso regular gratuito apresentaram 60% mais probabilidade de adesão que aqueles sem regularidade no acesso. Para indivíduos com acesso regular mantido mediante pagamento, a associação do acesso com a adesão não foi verificada. Os dados revelaram baixa prevalência de adesão e o impacto da regularidade do acesso gratuito no comportamento aderente do usuário. A programação para aquisição de medicamentos do CEAF é fundamental para evitar a irregularidade no acesso a esses medicamentos, que aponta para uma importante limitação das políticas de medicamentos.