Resumen:
A presença de carvão vegetal macroscópico (charcoal) no registro fóssil oferece a perspectiva de uma gama variada de avaliações sobre o contexto paleoambiental que originou este tipo de depósito. Entre suas aplicações estão aspectos que têm envolvido a pesquisa geológica e paleontológica nos últimos anos, tais como as variações do teor de oxigênio na atmosfera e a associação da vegetação a contextos pirogênicos. No presente trabalho foi realizada a avaliação da presença de carvão vegetal macroscópico (charcoal) em depósitos do final do Cretáceo na Península Antártica cuja gênese, em um contexto tectônico de ante-arco, resultou em uma deposição eminentemente vulcânica. Parte do material aqui estudado provém das coletas realizadas pelo Programa Antártico Brasileiro nas ilhas King George e Nelson, estando armazenado no Laboratório de História da Vida e da Terra (LaViGea), da Universidade do Vale do Rio do Sinos – UNISINOS, parte foi cedida pelo Instituto Antártico Chileno (INACH), e provém da ilha Livingston. As amostras foram analisadas sob estereomicroscópio, buscando a presença de fragmentos que denunciassem a ocorrência de elementos carbonizados. Estes foram retirados mecanicamente do sedimento e analisados sob Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). As análises permitiram a definição das características morfoanatômicas preservadas nos fragmentos vegetais e a avaliação da dinâmica dos paleoincêndios. Duas localidades mostraram a presença de restos carbonizados, uma delas no sudoeste da ilha King George (Pontal Price) e a outra na área norte da ilha Nelson (Pontal Rip). A análise demostrou que os fragmentos vegetais carbonizados apresentam estruturas celulares preservadas, a presença de raios transversais simples e pontoações uniseriadas permitem relacionar o material à Gimnospermas. A fusão das paredes celulares dos traqueídeos, com claras marcas de ruptura das estruturas permitem inferir temperaturas entre 340°C e 600 °C. Tendo em conta o contexto proximal do edifício vulcânico, inferido a partir das litologias associadas, uma vinculação tafonômica à queda de cinzas ainda aquecidas é aqui proposta para a queima e preservação dos restos.