Resumen:
A Antártica é o continente mais ao sul do globo, e também o mais gelado, onde 96% de seu território permanecem congelados durante o ano todo. Apesar de possuir as mais baixas temperaturas, altas altitudes e os mais fortes ventos, ele abriga uma grande biodiversidade. A avifauna marinha antártica é expressiva e ocupa grande parte da costa durante o período reprodutivo, compreendido no verão austral, entre os meses de outubro e março, período em que ocorre o degelo antártico. Entre pingüins, skuas, gaivotas, o Macronectes giganteus, popularmente conhecido como Petrel-gigante-do-sul, é uma das espécies que ocupa as áreas de degelo para a reprodução. As breeding áreas de aves marinhas, frequentemente, encontram-se associadas à comunidades e populações vegetais, dentre elas algas, liquens, musgos e plantas com flores. Os musgos Sanionia uncinata (Hedw.) Loeske e Andreaea regularis C. Muell., comuns na Antartica, junto a outras espécies compõem vastas formações verdes junto as duas únicas espécies nativas de angiospermas na região Deschampsia antarctica Desv. e o Colobanthus quitensis (Kunth) Bartl. A D. antarctica é uma gramínea muito comum no ambiente antártico, formando grandes gramados em diversas áreas sem ou com influência direta de colônias de aves marinhas. Essa influência ocasiona grandes depósitos de guano, porque ano após anos estas aves formam grandes colônias com dezenas, centenas ou até milhares de indivíduos. Em decorrência disso, o solo torna-se um depósito de minerais, principalmente de nitrogênio, disponível em forma de amônio e nitrato. Entretanto, nem toda a vegetação suporta essas elevadas quantidades dessas substâncias, por isso diferentes espécies de plantas evidenciam evolução nos mecanismos de tolerância ao stress por amônio, o que vêm sendo comprovado a nível molecular. Referente a isso, nos últinos anos, reguladores genéticos sensíveis à NH4+ foram identificados em Arabidopsis thaliana e, genes que estavam relacionados a sensibilidade à amônia, todos apresentavam respostas a nível de raiz, referenciando a absorção e concentração de amônia pelo sistema radicular das plantas. O objetivo desse trabalho foi verificar e analisar a influência das colônias reprodutivas de aves marinhas sobre as populações vegetais, nas Ilhas Shetlands do Sul, Antártica, sob uma perspectiva molecular. A partir das análises das amostras coletadas, utilizando a abordagem RNAseq e qRT-PCR foi possível identificar um único gene diferencial e significativamente expresso em D. antarctica. O gene LOC_Os06g16380, dentre os tratamentos amostrados (controle, 1m e 10m), apresentou maior expressão próximos 1m das áreas reprodutivas de M. giganteus. O gene diferencial e significativamente expresso encontrado nesse trabalho, foi relacionado ao Heading date gene I (Hd1) encontrado no arroz, pois estes estão localizados na mesma região do transcriptoma. Nossos resultados sugerem que o gene LOC_Os06g16380 esteja relacionado com a capacidade da planta de tolerar altas quantidades de amônio já que, análises do solo demonstraram uma maior concentração de nitrogênio mineral disponível na forma de amônio, nas amostras mais proximas (1m) das colônias reprodutivas de aves.