Abstract:
A presente tese investiga as gestualidades fotográficas em jogos digitais tendo em vista as experimentações materiais e estéticas que permeiam a tendência chamada in-game photography (fotografia de jogo). Com isso, aborda o entrelaçamento da fotografia e do videogame enquanto máquinas que produzem imagens a partir da conexão com o indivíduo jogador/fotógrafo. Mobilizados pelo problema “como os jogos digitais atualizam e comunicam gestualidades fotográficas na tecnocultura contemporânea?”, buscamos compreender as condições das experiências que envolvem a produção e a fruição da fotografia nos ambientes dos jogos digitais. Para fundamentar o objeto da pesquisa no âmbito das Ciências da Comunicação, dos Games Studies e da Filosofia da Imagem, convocamos os principais conceitos de gesto (AGAMBEN, 2008, 2015, 2018), gesto fotográfico (FLUSSER, 1985, 1994, 2014), gameworld interfaces (JØRGENSEN, 2013) e imagem-ficção (DUBOIS, 2017, 2018). Com o horizonte teórico direcionado para os paradigmas da fotografia e do jogo em suas dimensões de ludicidade e medialidade, propomos um arranjo metodológico a partir dos princípios da Arqueologia das mídias (HUHTAMO, 2013; PARIKKA, 2017; FISCHER, 2015), Arqueogaming (REINHARD, 2018, 2019a), da Cartografia e Constelações (BENJAMIN, 2015) e Decifração vinculada à Teoria Geral dos Gestos (FLUSSER, 1985, 1994, 2014). Dado esse conjunto de procedimentos e métodos, realizamos um mapeamento online (sites, plataformas e comunidades) de games que resultou em um corpus de 20 jogos digitais com a fotografia integrada às mecânicas e/ou à narrativa. Para examinar a fotografia in-game e operacionalizar esse conjunto de jogos, identificamos três formas distintas de inscrição da fotografia denominadas de: gesto fotográfico como ação principal, ação secundária e Modo foto. A atribuição de gesto fotográfico nesses casos decorre da presença da câmera no mundo ficcional do jogo ou de processos de interrupções no fluxo do jogo que incidem em uma imagem fotográfica. Com base nisso, deciframos: os elementos que constituem a narrativa e a jogabilidade em jogos com o gesto fotográfico principal como Pokémon Snap, Afrika e Fatal Frame; as dinâmicas das missões paralelas tendo em vistas os processos de capturas e os tipos de fotografias produzidas em casos de ação secundária como Life is Strange, Watch Dogs 2 e The Legend of Zelda: Breath of the Wild; e os aspectos que se referem a instantaneidade, ubiquidade e conectividade em jogos com o Modo foto como Horizon Zero Dawn, Spider-man. Para dar sentido às conexões e atravessamentos entre os jogos e gestos, constituímos três constelações de gestualidades fotográficas: hacking fotográfico, capturas feitas pela máquina e Art of gaming. Por fim, depreendemos que o fenômeno das gestualidades fotográficas nos jogos digitais transcende o próprio mundo do jogo, despontando-o como um ambiente de criação e experimentação artística e fotográfica, do qual emerge a figura do screenshooter e in-game photographer.